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[Resenha] O Atlas do Amor — Laurie Frankel

Laurie Frankel é a autora que, ao escrever “Adeus, por enquanto” (leia a resenha), se tornou responsável por uma das leituras que guardo com imenso carinho mesmo depois de meses desde a última revisitada. Consta no blog a entrevista feita com ela, que vocês podem conferir aqui. Além desses fatores (talvez pequenos para uns, mas certamente grandes para mim) ela é, curiosamente, pós-graduada em literatura inglesa tal como as protagonistas de “O Atlas do amor”, título de sua estreia literária.

Nessa história, Jill é amiga de Janey, que acaba se tornando amiga de Kate, que acaba também amiga de Jill, assim se tornando a terceira das quatro peças-chave que simbolizam o início da história protagonizada por essas três melhores amigas. A quarta peça é Atlas, o bebê delas. Não, não, volta. Explicando melhor: o bebê que elas se unem para criar após Jill engravidar acidentalmente do namorado mais jovem e ser abandonada por ele.
Vê-se necessária uma mudança de casa, de rotina e de prioridades para que todas possam se dedicar à tarefa de cuidar da criança que está por vir. Um bicho de estimação e uma programação de revesamento para cuidados com Atlas passam a fazer parte da nova realidade. Enquanto Kate procura um marido mórmon, Janey lida com a pressão e seu lado controlador e Jill almeja empregos, realidades diferentes, complicações vêm para provar que, independentemente da formação, famílias sempre terão obstáculos na forma de verdadeiras provações a enfrentar.

Com frequência somos atraídos pela promessa de um romance que trata de nós, e de fato reconhecemos pessoas como nós, mas suas vidas são tão empolgantes, tão devastadoras e improváveis, tão repletas de complicações, importância e coincidências, que deixamos de nos identificar com elas.  Sabemos que o narrador não vai nos contar sobre o verão em que nada acontece; ele vai nos contar sobre verão em que tudo acontece, em que tudo muda. No final das contas, talvez essa palavra — mudança — seja o ponto principal do romance. Não o que aconteceu, ou por que aconteceu, mas o que mudou e o que aprendemos por conta disso[…] “Nós” somos os personagens principais, o narrador, os personagens secundários, os detalhes, o autor e, talvez mais importante ainda, os leitores.

Em “Atlas”, Laurie se utiliza do dom da sutileza para deixar o leitor se remexendo. É quase como receber um afago bruto demais. É ao mesmo tempo bálsamo e chacoalhar para lhe abrir os olhos. Agradável e desagravável. Confuso e verdadeira. Simples, embora nem por isso dotado de menos potencial. De página em página, o leitor é guiado através da experimentação da vida e dos sentimentos dos personagens, estando sempre entre a fina linha entre o factual e a ficção.
A maior qualidade desse livro é sua delicadeza. Não fosse ela, nenhum outro atributo teria condições de crescer e aparecer. Ele trata dos sentimentos humanos, das escolhas, das condições que nos são impostas ou às quais no submetemos. No melhor e no melhor, é o tato que faz a trama soar sincera. Sem demonstrar pressa, o que às vezes pode ser inquietante, chega um ponto em que a história parece desabrochar. Uma pena que então já faltem páginas suficiente apenas para deixar um gosto de “quero mais”.
“O Atlas do amor” traz reflexões sobre a força dos laços familiares capazes de unir as pessoas. E ele não faz isso apenas com a chamada formação tradicional, mas com casados, divorciados, mães solteiras, casais heterossexuais, casais homossexuais, casais-não-casais, amigas que se unem para criar um bebê etc. Em geral, é uma boa opção para quem gosta de bons livros.

Título original: The Atlas of Love
Número de páginas: 240
Editora: Paralela

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