Criada em Indiana, mesmo estado americano dos personagens de “Por lugares incríveis”, Jennifer Niven é autora de quatro romances para adultos, três de não-ficção e uma coletânea de memórias. Com esse, seu primeiro título para jovens, ela faz sua estreia no Brasil.
O início da amizade de Violet Markey e Theodore Finch foi tudo menos convencional. Venhamos e convenhamos, os dois não têm muito em comum. Enquanto ela ostenta a “vida perfeita”, com um futuro brilhante pela frente, ele se reinventa semanalmente, movendo-se entre um momento e outro através de ações e decisões majoritariamente impulsivas. Faz tempo que o garoto carrega o estigma de problemático, de aberração. No momento, é Violet quem tenta descobrir como se adaptar à sua nova realidade agora que o acidento do qual saiu ilesa lhe tirou os sonhos, a perspectiva e a irmã.
Fich tem o costume de pesquisar e pensar em métodos de suicídio bem mais do que seu orientador pedagógico julgaria saudável, mas isso não o impede de subir ao alto da torre do sino do colégio no qual estuda. É lá, justamente onde menos se poderia imaginar, que ocorre o grande encontro uma Violet com pensamentos autodestrutivos como os dele. Então, ligados por esse momento superado graças ao apoio mútuo, esses alunos transformados em dupla recebem a tarefa de visitar lugares incríveis de seu estado. Assim, bem-vindos às andanças pelos locais mais inusitados de Indiana. Tudo é permitido enquanto eles conhecem um ao outro, sim, mas também mais de si mesmos.
Aprendi que existem coisas boas no mundo, se você procurar por elas. Aprendi que nem todo mundo é uma decepção, incluindo eu mesmo, e que um salto a 383 metros de altura pode parecer mais alto que uma torre do sino se você estiver ao lado da pessoa certa.
“Por lugares incríveis” pode não atingir a todos. Não da mesma forma, pelo menos, e adivinhe só? Tudo bem! Das variações de seriedade até o nível de impacto fora do público-alvo, principalmente, há aspectos que certamente levarão a opiniões absolutamente diferentes. No entanto, fica registrada aqui minha defesa da importância do livro, ou, indo mais longe, desse tema para o leitor jovem-adulto. Vale lembrar que o suicídio é a segunda maior causa de morte entre a juventude mundial. No Brasil, segundo dados do Mapa da Violência, do Ministério da Saúde, houve um aumento de 33,5% dos casos entre pessoas de 15 a 19 anos de idade só entre 2002 e 2012. Na faixa dos 10 aos 14 anos, o aumento foi de 40%. Desconsiderando-se todo o resto, tudo aquilo “contaminado” por interpretações pessoais, esse ainda é um excelente título de questionamento, reflexão e exposição sobre um assunto delicado de saúde pública.
Ela é oxigênio, carbono, hidrogênio, nitrogênio, cálcio e fósforo. Os mesmo elementos que estão dentro de todos nós, mas não consigo parar de pensar que ela é mais que isso e que tem outros elementos dos quais ninguém nunca ouviu falar, que a tornam diferente de todas as outras pessoas.
Com narração alternada entre os protagonistas, provamos angústia, apreensão, euforia, paixão, insegurança. Diga você qual adolescente não transitou por tudo isso. Jennifer Niven escreve com verdade, falando através de personagens carismáticos. Embora isso talvez só fique claro ao final, todos os detalhes foram pensados. Esse não foi um trabalho feito ao acaso, mas sim construído — muito bem, por sinal!
Finch é disparadamente o personagem mais interessante: carismático, profundo, multifacetado e, a meu ver, responsável pelo tradução bem-sucedida do propósito da obra. Já Violet eu enxergo como o contraponto, o pé no freio, a intensidade na forma de uma identificação mais fácil. A necessidade de tê-los como são é nítida na mesma medida que o é a força dos personagens secundários, embora, claro, com funções e impactos distintos.
Não sou um conjunto de sintomas. Não sou uma vítima de pais horríveis e de uma composição química mais horrível ainda. Não sou um problema. Não sou um diagnóstico. Não sou uma doença. Não sou uma coisa que precisa ser salva. Sou uma pessoa.
A palavra que eu usaria para descrever “Por lugares incríveis” é “mais”. Tão, tão mais que não coube no espaço que lhe foi dado e teve de transbordar das páginas para mim, então fluindo de volta a seu lugar de origem na forma de lágrimas.
1 Comment
Lah
16 de abril de 2015 at 16:28Adorei a resenha!! Com certeza vou ler! 🙂